Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

Reitoria formalizou equipe em 27 de maio e ela terá 90 dias para concluir trabalhos. Criação de serviço está entre reivindicações de ‘Carta Antirracista’ elaborada por comunidade em 2022.

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe foi formalizada em 27 de maio pela reitoria da universidade estadual, em Campinas (SP), e atende uma das reivindicações apresentadas pela “Carta Antirracista” elaborada no ano passado por estudantes e professores da disciplina “Tópicos Especiais em Antropologia IV: Racionais MC’s no Pensamento Social Brasileiro”.

A equipe é composta por 15 profissionais, entre eles, a professora e diretora executiva de Direitos Humanos na Unicamp Silvia Santiago, na função de presidente. Os trabalhos devem ser concluídos em 90 dias, informa portaria assinada pelo reitor da instituição, Antonio José de Almeida Meirelles.

“A demanda por um serviço de atenção a casos de racismo na universidade é preocupação dos últimos anos. Desde que as cotas étnico-raciais foram implantadas e a comunidade se diversifica mais rapidamente, era esperado que estranhamentos ocorressem. Desde 2019 estamos atentos a essas ocorrências e pensando em como atendê-las. Estamos trabalhando para qualificar o atendimento aos casos de racismo que nos chegam”, destacou Silvia.
As reivindicações da “Carta Antirracista” surgiram após suposta ofensa racial praticada por um professor da Faculdade de Engenharia Mecânica durante aula. Outro pedido da carta é a concessão do título “doutor honoris causa” aos músicos do Racionais MC’s, mas ainda não há confirmação.

Silvia complementou que o caso que motivou a “Carta Antirracista” foi um dos que desencadearam na iniciativa do serviço, e reforçou que o objetivo é contemplar casos de racismo contras as comunidades negra e de estudantes indígenas. A diretora mencionou ainda os cuidados previstos nos trabalhos.

“Queremos organizar um serviço que cuide das pessoas vítimas do racismo para que haja entendimento e possibilidade de ação que seja eficaz para si e para a comunidade universitária, especialmente a comunidade negra e indígena. Um serviço que possa abordar e curar as dores, os desalentos, antigos e atuais, para que essas pessoas possam seguir adiante e construir vidas que resgatem a dimensão da felicidade e da cidadania plena, que compreendam seus direitos. Neste sentido, individual e coletivo, trabalhar com cada sujeito e coletivamente o cultivo de si, que aponte para um olhar cuidadoso e de reconstrução de suas comunidades de origem […] O racismo atinge a pessoa, mas é estratégia social de discriminação dos povos”, explicou a docente ao g1.

Origem da carta
O primeiro documento assinado pelos professores e estudantes da disciplina “Tópicos Especiais em Antropologia IV: Racionais MC’s no Pensamento Social Brasileiro” é de 31 de agosto de 2022 e afirma que um professor da Faculdade de Engenharia Mecânica entrou na sala onde o conteúdo era apresentado, por volta das 18h50 daquela data, e afirmou que “não é horário para ouvir músicas” e ainda teve postura desrespeitos ao gritar com a professora da disciplina, Jaqueline Lima Santos, na frente de todos os alunos.

“Mesmo depois da professora informar que a aula é sobre música e tentar explicar que é o primeiro dia nesse espaço e que estava testando os equipamentos, ele não a ouviu. Continuou gritando e dizendo que ‘isso não é horário para ouvir música’. A justificativa do professor é que a música estava atrapalhando sua aula. É importante destacar que os alunos que estavam do lado de fora informaram que o som não estava chegando no corredor, que a sala do referido professor tinha apenas dois alunos e que sua aula não tinha começado – o horário de início é 19h. Consideramos a postura desrespeitosa, racista e misógina, porque além de gritar com a professora, ignorou o que a mesma tinha para falar e, mesmo diante de pedidos para que fosse ouvida, ele continuou exaltado. O professor demonstrou dificuldade de reconhecê-la como uma colega de trabalho”, diz trecho da carta antirracista.

Na ocasião, o caso não foi comunicado por ela para a Polícia Civil.

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