Lojistas fecham comércios e protestam contra insegurança na Santa Ifigênia, no Centro de SP

Conhecida como ponto especializado em eletrônicos e videogames na capital paulista, rua foi afetada pela dispersão da Cracolândia. Donos de lojas citam aumento de furtos e roubos com presença de dependentes químicos.

Um grupo de lojistas que trabalha na Rua Santa Ifigênia, no Centro de São Paulo, fechou as portas de seus comércios e protestaram contra roubos e furtos na região.

Com cartazes, eles cobraram melhorias por parte do governo paulista, de Tarcísio de Freitas (Republicanos), para a segurança pública desde que houve dispersão dos dependentes químicos na Cracolândia.

Anteriormente, o fluxo (como é chamado o grupo de usuários) ficava localizado na região da Praça Princesa Isabel. A área foi transformada em parque e está fechada para obras.

Os donos de lojas alegam que os casos de roubo e furto aumentaram na região com a presença de dependentes próximos às lojas.

Segundo a PM, o protesto começou às 09h37 pela Rua dos Gusmões, passou pela rua Santa Ifigênia e seguiu em direção à Subprefeitura da Sé, no Centro. “No local, segundo a PM, há interdição de via e carro de som. Não sabem informação o número de pessoas envolvidas. A delegacia da área é o 3º DP do Campos Elíseos”.

Dispersão da Cracolândia

Novos locais com concentração de pessoas em situação de rua usando drogas surgiram após ações da polícia no Centro da capital, segundo pesquisa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) em 2022.

Os pesquisadores identificaram que a maior parte desses pontos está na região central da capital. Eles reúnem de 20 a 200 usuários em cada local. Na ocasião, o estudo apontou que a tática usada pela prefeitura para a dispersão dos usuários não era a mais adequada para resolver o problema da Cracolândia.

A prefeitura defende que as ações no centro provocaram um aumento no atendimento aos dependentes químicos, e que desde 2017 é possível verificar uma redução do número de pessoas na Cracolândia.

Entretanto, uma investigação do Ministério Público que apontou ilegalidade no processo afirmou que a grande maioria dos internados não tinha histórico de dependência química.

Há quem ganhe dinheiro e busque engajamento nas redes sociais com a degradação social e de saúde pública na Cracolândia. Vídeos publicados na rede social TikTok somam milhões de interações debochando de usuários de drogas. Em uma live, um perfil prometeu ‘jogar moedas’ nas pessoas se atingisse 10 mil seguidores.

Um dos casos é feito por um motociclista, que filma usuários na Cracolândia usa a música “Ilusão (Cracolândia)”, de MC Hariel. “Cena apocalíptica”, escreve. Em menos de dois meses, a postagem recebeu 4,6 milhões de visualizações e 223 mil curtidas. Outro, publicado no dia 30 de março, acumula 6,8 milhões de visualizações, 223 mil curtidas e 5,3 mil comentários.

Insegurança no Centro
Levantamento feito pelo Sindicato de Restaurantes, Bares e Similares em abril deste ano indicou que 40 restaurantes fecharam as portas no Centro de São Paulo no último ano.

O aumento da insegurança provocou a queda do número de clientes e reduziu a sobrevida dos estabelecimentos.

Em abril, uma farmácia e um mercado foram saqueados por dezenas de pessoas na região da Cracolândia.

Levantamento do g1 e do Fantástico mostrou que a cidade de São Paulo tem um registro de roubo ou furto de celular a cada 3 minutos. Mais de 15% destes crimes se concentram em duas delegacias do Centro, região próxima à Cracolândia.

Durante 2022, a prefeitura e o governo do estado realizaram ações para tentar combater o tráfico de drogas. As medidas, entretanto, não impediram a venda e o consumo no local, e fizeram com que os usuários se espalhassem pelo Centro.

O tradicional colégio Liceu Coração de Jesus, na região central de São Paulo, ameaçou encerrar as atividades no ano passado, mas foi mantido após a prefeitura firmar parceria para pagar a mensalidade de 500 alunos da rede pública e evitar o fechamento.

Fundada há 137 anos, em um edifício já tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo), a instituição ligada à igreja católica chegou a ter mais de 3 mil alunos, mas passou a sofrer com o problema de insegurança causado por sua proximidade com a região da Cracolândia, um dos fatores que levou à diminuição do número de estudantes.

Cracolândia é desafio há décadas
A Cracolândia ficou localizada por muitos anos na Rua Helvétia. Ações policiais no local, porém, fizeram os usuários migrarem para a Praça Princesa Isabel diversas vezes.

Em 2017, depois de uma operação das forças de segurança, os usuários foram retirados do local e acabaram se espalhando pelo Centro.

Atualmente, eles estão mais concentrados no cruzamento da Rua Conselheiro Nébias com a Rua dos Gusmões.

A Cracolândia é um desafio para São Paulo há cerca de 30 anos. Especialistas apontam que a solução passa por medidas efetivas e permanentes nas áreas de saúde, assistência social e segurança pública.

As operações são criticadas por movimentos sociais. Ativistas acusam as forças de segurança de agirem com violência contra usuários de drogas, os espalhando pela cidade.

 

By Alessandra Gomes

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