Grávida liberada da Santa Casa de Ribeirão Preto após acidente morreu com embolia pulmonar e traumatismo, diz atestado

Ana Cristina Santana Lourenço, de 23 anos, ficou ferida em colisão em maio. Após ter alta no mesmo dia, ela teve piora, passou por quatro UPAs e postos até ser internada no dia 6 de junho antes de morrer.

O atestado de óbito de Ana Cristina Santana Lourenço, que estava grávida de seis meses e foi vítima de um acidente de trânsito no fim de maio em Ribeirão Preto (SP), aponta que ela morreu por trombo embolia pulmonar, traumatismo craniano e pielonefrite.

A família da jovem, de 23 anos, acusa médicos do sistema público de saúde de negligência. Ela foi liberada da Santa Casa no mesmo dia do acidente e apesar de uma tomografia apontar o traumatismo craniano.

Segundo a família, Ana Cristina ainda passou por vários atendimentos posteriores em unidades de pronto atendimento (UPAs) e postos até ser internada de novo na Santa Casa, onde morreu no sábado (10).

O acidente aconteceu no dia 19 de maio, no cruzamento das ruas Amadeu Amaral e Américo Brasiliense. Segundo o boletim de ocorrência, uma motorista de 45 anos avançou a sinalização de pare e atingiu a moto que levava Ana Cristina na garupa.

O condutor da moto e a motorista do carro sofreram ferimentos leves e foram levados à UPA. Já a passageira foi levada em estado grave para a Santa Casa.

“Eles liberaram a minha filha, menos de 24 horas depois, não internou, não fez nada. Foi um acidente muito grave, mas a gente não sabia como estava. Fizeram a tomografia, disseram que a minha filha tinha dado uma mancha na cabeça, com certeza era um coágulo, que estava tudo bem”, diz a mãe da jovem, Maria Dyana Santana.
Quadro de saúde agravado
Após receber alta, o quadro de saúde de Ana Cristina só piorou, segundo a mãe, e a família deu início a peregrinação em busca de atendimento.

“Ela passou uma semana vomitando direto. Eu a levei na UPA e fiquei uma semana lá com ela. Ela desmaiou na UPA. A gente ficou duas horas esperando atendimento. Viram que ela estava muito mal, a médica nem levantou da cadeira para ver minha filha. Ela fez os exames, não conseguia nem fazer xixi. Fez de urina e sangue. A médica disse que era uma leve infecção de urina e que o vômito era por causa da gravidez. Voltamos para casa e retornamos no outro dia. Ela não parava de vomitar. Passaram antibiótico, mas não conseguia tomar.”

De acordo com Maria Dyana, a irmã de Ana Cristina a levou ao posto de saúde, onde emitiram uma carta solicitando a internação. A vaga na Santa Casa surgiu no dia 6 de junho, mas já era tarde.

“Ela foi internada à noite, disseram que tinham feito tomografia, que estava com infecção, e os rins não estavam muito bem. Ela até deu uma melhorada, mas foi no banheiro e desmaiou, convulsionou no braço da médica, levaram pra UTI. Na segunda convulsão, por volta das 22h, ela teve a parada cardíaca junto com a convulsão e não voltou mais.”

Por que foi liberada?
Maria Dyana acredita que a filha e a neta poderiam ter sobrevivido caso a jovem tivesse recebido o atendimento correto de saúde desde o socorro após o acidente.

“A gente não teve nenhuma reposta deles. O pai dela foi ao hospital e perguntou o que tinha acontecido. O médico disse que ela tinha entrado com traumatismo craniano. Se eles sabiam que ela tinha entrado com traumatismo craniano por que eles liberaram ela um dia depois do acidente que teve?”, questiona.

O que dizem a Santa Casa e a prefeitura
Em nota, a Santa Casa de Ribeirão Preto lamentou profundamente pela dupla perda familiar e reafirmou que assim que recebeu a regulação da paciente prestou todo atendimento necessário. A unidade ressaltou que está à disposição tanto da família quanto da Justiça.

A Secretaria Municipal da Saúde informou que os atendimentos prestados à Ana Cristina nas UPAs Leste e Oeste e na Unidades Básicas Distritais de Saúde (UBDSs) da Vila Virgínia e Central serão apurados com rigor e responsabilidade.

Investigação do acidente
O acidente de trânsito foi registrado como dupla lesão corporal culposa, quando não há a intenção.

Com a morte de Ana Cristina, a tipificação foi alterada para homicídio culposo junto com lesão corporal já que o mototaxista sobreviveu ao acidente.

By Alessandra Gomes

Deixe um comentário

Confira!