Nos últimos anos, o setor elétrico brasileiro tem enfrentado o aumento do fenômeno conhecido como “curtailment” — a limitação forçada da geração de energia, principalmente de fontes renováveis como solar e eólica. Esse cenário desafia a sustentabilidade econômica dos projetos de energia limpa e gera uma série de preocupações entre investidores e operadores.
O que é Curtailment e por que ocorre?
Curtailment ocorre quando as usinas, apesar de possuírem capacidade instalada e condições climáticas favoráveis, têm a sua produção limitada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Esse corte na geração pode ser atribuído a três principais fatores:
1. Indisponibilidade Externa: Falhas externas, como tempestades, incêndios ou manutenções, podem interromper a transmissão da energia gerada.
2. Requisitos de Confiabilidade Elétrica: Em momentos de pico, a capacidade das linhas de transmissão pode não ser suficiente para transportar toda a energia gerada.
3. Razão Energética: Em situações onde a demanda por energia não absorve toda a oferta disponível, ocorre uma necessidade de redução na produção.
Essas situações não apenas afetam a eficiência das usinas renováveis, mas também impactam diretamente a viabilidade financeira de tais projetos, uma vez que os geradores são compensados financeiramente apenas em casos específicos de falhas nos equipamentos de transmissão.
O Impacto para os Geradores de Energia Renovável
Com o crescimento acelerado de novos parques de energia solar e eólica, a infraestrutura de transmissão enfrenta dificuldades para acompanhar essa expansão. Esse desequilíbrio afeta os geradores, que podem enfrentar dificuldades para cumprir suas obrigações contratuais e ver a rentabilidade dos projetos comprometida.
Renato Amaral, fundador da Renova Energia, compartilha sua perspectiva sobre esse desafio: “O curtailment é um reflexo da falta de infraestrutura de transmissão que acompanhe o crescimento dos projetos renováveis no Brasil. Precisamos de um planejamento que considere não apenas a geração, mas a distribuição eficiente dessa energia. O setor tem um potencial enorme para transformar nossa matriz energética, mas sem uma infraestrutura adequada, o desenvolvimento sustentável fica comprometido.”
Soluções para Mitigação do Curtailment
O combate ao curtailment passa, inevitavelmente, pela adaptação da infraestrutura de transmissão e pela harmonização do ritmo de crescimento entre geração e demanda. Algumas das estratégias e tecnologias que podem mitigar os impactos do curtailment incluem:
• Armazenamento de Energia: Investir em baterias e usinas reversíveis para armazenar a energia excedente e disponibilizá-la quando a demanda aumenta.
• Eletrificação da Economia: Acelerar a eletrificação com data centers, hidrogênio verde e veículos elétricos, criando uma demanda mais consistente para a energia gerada.
• Revisão Regulamentar: Uma revisão dos critérios usados pelo ONS para definir os limites de geração e a inclusão de compensações financeiras mais abrangentes para os geradores afetados.
Essas medidas podem abrir novas oportunidades de negócio, favorecendo uma matriz energética mais equilibrada e sustentável. No entanto, até que essas mudanças estruturais se consolidem, os investidores precisam estar atentos aos riscos e contabilizá-los em seus planejamentos, principalmente em novos projetos que dependem de uma estimativa precisa de geração e consumo.
O curtailment no Brasil expõe a necessidade urgente de um planejamento integrado que considere geração, transmissão e demanda de forma equilibrada. Para que o país aproveite plenamente o potencial das energias renováveis, é fundamental que políticas públicas e investimentos em infraestrutura avancem em ritmo alinhado ao setor de geração. Somente assim será possível evitar que limitações impostas prejudiquem o avanço de uma matriz energética mais limpa e sustentável.