Ação para prender assassinos de PM na Baixada Santista já é a mais letal de SP desde os ‘crimes de maio’ de 2006

Operação Escudo ocorre após assassinato do soldado da Rota Patrick Reis, no Guarujá. Ouvidoria recebeu denúncias de excessos da corporação. Levantamento do g1 mostra que ação deste ano superou mortos da ‘operação Castelinho’, que em 2002, deixou 12 mortos.

A operação Escudo da Polícia Militar (PM) para localizar e prender os assassinos de Patrick Bastos Reis, soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), tropa de elite da corporação, morto a tiros por criminosos na última quinta-feira (27 de julho) no Guarujá, deixou ao menos 13 mortos até esta terça (1º de agosto) na Baixada Santista.

Levantamento do g1 mostra que a atual operação da PM já é a mais letal no estado de São Paulo desde os “crimes de maio” de 2006, quando as forças de segurança reagiram aos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC) e mataram ao menos 108 pessoas, segundo a Defensoria Pública. A ação deste ano superou a “operação Castelinho”, que em 2002, deixou 12 mortos (leia mais abaixo).

A Operação Escudo começou em 28 de julho e a previsão é ade que continue até 28 de agosto.

Crimes de maio
De acordo com levantamento feito pela Conectas Direitos Humanos em parceria com o Laboratório da Análise da Violência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre 12 a 26 de maio de 2006, 564 pessoas foram baleadas e mortas durante a onda de violência.

Dessas vítimas, 505 eram civis e 59 policiais civis, militares, agentes penitenciários e bombeiros. Outras 110 vítimas ficaram feridas por armas de fogo. Quatro pessoas ainda desapareceram nesse conflito e nunca mais foram encontradas por seus familiares.

Em 2021, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), decidiu julgar o estado brasileiro por suspeita de violação aos direitos humanos e omissão na investigação dos “crimes de maio” de 2006, como ficou conhecida a retaliação aos ataques contra a polícia que resultou na morte de civis no estado de São Paulo.

Ações da PM com mortes
Além de prisões, outras operações da PM também tiveram várias pessoas mortas, chamando a atenção da imprensa e de órgãos ligados aos direitos humanos. Veja abaixo algumas delas:

Março de 2002: 12 suspeitos do PCC são baleados e mortos por policiais militares em Itu, no interior paulista. Eles eram suspeitos de integrarem facção criminosa que age dentro e fora dos presídios. À época o caso foi considerado uma emboscada por entidades de direitos humanos e ficou conhecido como “Operação Castelinho”, por ter ocorrido numa praça de pedágio de uma rodovia.

Abril de 2019: 11 mortos pela Rota em Guararema. À época, a corporação alegou que seus agentes agiram em legítima defesa, quando balearam assaltantes que tinham atirado nos PMs, depois de tentarem roubar dois bancos na cidade. Três suspeitos foram presos em flagrante e outros dez teriam fugido.

Março de 2014: 10 mortos durante operação da PM em Caraguatatuba, Biritiba-Mirim e Salesópolis. Policiais buscavam criminosos que tinham roubado um shopping center no litoral.

Setembro de 2012: 9 suspeitos de facção mortos pela Rota em Várzea Paulista. A operação da PM foi num sítio onde o grupo estaria reunido para julgar um suspeito de estuprar uma menina de 12 anos. Segundo a corporação, os agentes foram recebidos a tiros e revidaram. O homem que seria julgado morreu na troca de tiros.

Dezembro de 2019: 9 mortos durante ação da PM em baile funk em Paraisópolis, Zona Sul da capital. Segundo o Ministério Público (MP), os PMs fecharam as vias de acesso ao baile e impediram os frequentadores de deixarem uma viela da comunidade. Depois jogaram bombas em direção às vítimas. Laudo necroscópico confirmou que a maioria delas morreu asfixiada por sufocação indireta.

Operação Escudo
Ao todo, 32 suspeitos foram presos, entre eles, Erickson David da Silva, apontado pelas autoridades como o “sniper” que atirou no soldado da Rota da PM. A defesa do preso negou o crime à imprensa.

O secretário da Segurança, Guilherme Derrite, afirmou que quatro suspeitos da participação na morte do policial já foram identificados, sendo que dois deles estão presos. Também foram encontrados mais de 20 quilos de drogas e 11 armas foram apreendidas.

“Aqueles que resolveram se entregar à polícia foram presos, foram apresentados à Justiça”, disse Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, aos jornalistas. O político ainda falou estar “extremamente satisfeito” com a ação da PM que àquela altura já tinha matado oito pessoas.
Ainda de acordo com a SSP, seis policiais foram mortos neste ano na Baixada Santista e 14 feridos até o momento.

A Ouvidoria da Polícia de São Paulo, órgão autônomo que recebe denúncias sobre a atividade policial, denunciou as mortes cometidas pela PM na Baixada Santista após o assassinato do soldado Patrick.

Segundo o ouvidor, ainda há dúvidas sobre o número exato de pessoas mortas durante a ação policial no litoral, que pode aumentar. “Vamos nos debruçar sobre os registros. Não param de chegar denúncias de mortes, mas estamos tomando todo cuidado possível para divulgar qualquer informação”, disse Claudio.

Ainda de acordo com a Ouvidoria, além de suspeitos, inocentes podem ter sido mortos pela PM. Claudio disse que um dos mortos pelos policiais seria um vendedor ambulante, atingido por 9 tiros na sexta (28). A família dele teria encontrado o rapaz com queimaduras de cigarro e um corte no braço.

O ouvidor afirmou também que moradores do Guarujá relataram que policiais torturaram e mataram um homem e prometeram matar ao menos 60 pessoas em comunidades da cidade.

O Instituto Sou da Paz, que faz estudos voltados à segurança pública, lamentou o assassinato do soldado Patrick, morto por dois bandidos durante patrulhamento de rotina em Guarujá. Ele era casado e deixa um filho. O companheiro dele também foi baleado, mas sobreviveu.

O instituto, porém, também publicou nota para demonstrar preocupação com a reação da PM à morte do agente. “Preocupação com a quantidade de ações policiais que resultaram em mortes no curso da Operação Escudo, determinada pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo após o homicídio do soldado Reis”, informa trecho do comunicado.

 

By Alessandra Gomes

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